Estuprador agia desde 2007
Publicado em 25 de agosto de 2011
O agricultor Francisco de Assis Alves, 56, o ´Diassis´, detido anteontem na cidade de Juazeiro do Norte, no Cariri (a 493Km da Capital), sob a acusação de ter molestado, pelo menos, 17 crianças na cidade de Pindoretama, na Região Metropolitana de Fortaleza, já havia sido preso nos anos de 2007 e 2009, acusado do mesmo tipo de crime.
Registros da Polícia Civil apontam que, no dia 26 de maio de 2009, ´Diassis´ tinha sido conduzido a uma delegacia do Interior do Ceará depois de ter sido flagrado com duas meninas, ambas de 11 anos de idade, dentro de sua residência. No momento do flagrante, as crianças eram submetidas a abusos sexuais depois de terem sido dopadas com o comprimido psicotrópico Rivotril. Na mesma ocorrência, foram apreendidas cinco espingardas de ar comprimido e um aparelho de telefone celular oferecido a uma das vítimas.
Exclusivo
A informação foi obtida com exclusividade pelo Diário do Nordeste, ontem, enquanto o acusado de pedofilia era interrogado pela delegada Ana Cristina Lima, da cidade de Pindoretama, sobre os recentes atos de violência sexual praticados contra 17 crianças de 5, 6, 9, 10 e 11 anos. O interrogatório aconteceu na sede do Departamento de Inteligência Policial (DIP), na Delegacia Geral da Polícia Civil, no Centro de Fortaleza.
Francisco de Assis chegou à Capital por volta das 4 horas de ontem. Dado o forte apelo social do caso, o agricultor foi conduzido ao prédio da Superintendência da Polícia Civil logo pela manhã, sob forte escolta policial, para ser ouvido. O diretor do DIP, delegado Francisco Carlos Araújo Crisóstomo, coordenou a operação, que também contou com a participação de integrantes da Coordenadoria de Inteligência (Coin) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Preventiva´Diassis´ teve prisão preventiva decretada pelo juiz de Direito Ricardo de Araújo, que está respondendo interinamente pela Comarca de Pindoretama.
A primeira denúncia recente contra ele aconteceu no último dia 10 de agosto. "Foi quando a mãe de uma criança nos procurou. A primeira vítima que surgiu apontou outras cinco, a partir das quais surgiram mais cinco. E até o momento, contabilizamos 17", disse a delegada Ana Cristina Lima, que não descarta a existência de outras crianças molestadas.
"Há indícios de outras vítimas. Algumas não se manifestaram ainda por medo ou mesmo vergonha. Com a prisão dele, novas vítimas devem procurar a Polícia. Fazemos, inclusive, este apelo", destacou. Até o momento, as crianças violentadas supostamente por ´Diassis´ eram residentes nos municípios de Pindoretama, no litoral leste do Estado; e em Juazeiro do Norte, na região do Cariri.
Brinquedos
Conforme investigações da Polícia, para atrair suas vítimas, ´Diassis´ confessou que utilizava brinquedos e outros objetos infantis. "Na casa dele, apreendemos uma bicicleta e uma mochila cor-de-rosa. Além disso, descobrimos que ele oferecia biscoitos e refrigerantes. Nas bebidas ele costumava colocar os comprimidos psicotrópicos para entorpecer as crianças e praticar o abuso logo em seguida", contou o delegado Crisóstomo.
Nomes
Também na residência onde o acusado estava escondido, em Juazeiro do Norte, foram apreendidas peças do vestuário infantil, inclusive, calcinhas e cuecas. "Aos poucos, novos nomes vão surgindo", disse a delegada Ana Cristina. De acordo com a delegada, atualmente ´Diassis´ estava utilizando o comprimido Diazepan, de cinco miligramas, para dopar as crianças. O material apreendido agora deverá ser submetido a exames de perícia criminal.
Desde a última sexta-feira, a Polícia fazia diligências para prender o acusado dos crimes. O secretário da Segurança Pública, coronel Francisco José Bezerra, determinou que as equipes da Coin trabalhassem de forma ininterruptas até que localizassem o suspeito.
Na tarde de terça-feira, uma equipe de Inteligência, finalmente, descobriu que ´Diassis´ tinha retornado à sua terra natal. Estava escondido em uma pequena casa de um só cômodo localizada na Rua Virgínia Mendonça, bairro João Cabral, na periferia de Juazeiro.
Com o apoio de patrulhas do 2º BPM (Juazeiro), os agentes da Coin fizeram o cerco. O agricultor não ofereceu resistência, mas negou os estupros.
DEPOIMENTO
Acusado diz que tudo não passou de ´brincadeiras´
"Para mim, tudo era brincadeira. Simplesmente brincadeiras". Assim, Francisco de Assis definiu em seu depoimento à Polícia Civil os abusos sexuais contra crianças dos quais é acusado. Após cerca de duas horas de interrogatório, a delegada Ana Cristina Lima, de Pindoretama, deixou a sala do DIP convicta de que ´Diassis´ não fez só 17 vítimas. "Mais irão surgir, tenho certeza", afirmou.
A delegada disse que não poderia fornecer detalhes do que foi dito pelo acusado por se tratar de crimes envolvendo crianças. "Ele revelou detalhadamente a prática dos abusos. Ouvi coisas horríveis, que nem merecem ser repetidas numa entrevista", lamentou.
ConscienteAna Cristina disse, ainda, que o depoimento do acusado de pedofilia apresentou várias contradições. "Isso mostra que ele realmente sabia o que estava fazendo. É uma pessoa consciente do que faz e tem pleno uso das faculdades mentais. Não é doido ou qualquer coisa parecida", diz a delegada Ana Cristina.
Desde que as primeiras vítimas apareceram, surgiu, também, a pessoa de um heroi das crianças. "Foi o sargento Roberto Muller, comandante do Destacamento da Polícia Militar de Pindoretama. Ele ganhou a confiança das vítimas, que se sentiam protegidas por ele, e encorajou as famílias a prestarem queixa", disse Ana Cristina.
Pai de uma criança de dez anos e de um adulto de 20, o sargento se emocionou ao falar dos casos ocorridos na cidade. "Isso choca qualquer policial, mesmo aqueles que, como eu, já tem 24 anos de profissão".
NATHÁLIA LOBOSUBEDITORA DE POLÍCIA